segunda-feira, 19 de julho de 2010

"devaneio esferográfico"

Preciso reduzir seu corpo à tinta preta.
Preciso te escancarar, vulnerável, nesta folha.
Vomitá-la, frágil, ordinária da minha caneta
Falsificar-te, amassar-te, jogar-te fora
Simples mancha, bolha, ideia abstrata

Preciso torná-la um rascunho, um despropósito!
Reduzir seus membros à minha caligrafia
Descuidada nas linhas de um caderno velho.
Inventar-te com começo, meio e fim,
Mera ficção. Errar-te, escrever de novo...

Caso contrário você surge enorme do meu subconsciente
Com muitas pernas, muitos braços, olhos e bocas grandes
E me amedronta e me ridiculariza.
Toma conta das minhas roupas, das minhas desculpas,
Desaba um céu sujo e encarnado sob meus ombros,
Impregna a matéria sólida e densa dos meus sonhos.

(Meus deus! seu sorriso ganha vida e ri sozinho e seus dentes me mastigam e me cospem fora e pensar em algo se torna pensar somente em você e nem pensar posso mais, posto que é você que passa a pensar meus próprios pensamentos!)

(Ituverava - 05/2010)
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"No mundo há muitas armadilhas
e o que é armadilha pode ser refúgio
e o que é refúgio pode ser armadilha"
(Ferreira Gullar)

2 comentários:

Erika disse...

E isso não sei porque me lembrou isso: http://carbonoeamoniaco.blogspot.com/2008/04/faa-assim-pegue-algumas-de-suas-coisas.html

fernando disse...

hahaha, desenterrou esse.

talvez realmente tenham suas semelhanças(a tentativa de se tomar as coisas por um novo ângulo, de se reaprender a lidar com elas)... mas ainda os vejo basicamente diferentes, noo que os motivaram e no que se busca. ah, sei lá. de qualquer forma é sempre difícil se reler, é quase como ler outra pessoa.